O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é uma condição de saúde mental complexa, caracterizada por alterações significativas de humor, que variam entre episódios de euforia (mania ou hipomania) e depressão. Essa condição impacta profundamente a vida dos indivíduos e de suas famílias, exigindo um acompanhamento médico e terapêutico contínuo. No campo das terapias complementares, a Constelação Familiar Sistêmica tem sido explorada como uma ferramenta para compreender as dinâmicas inconscientes que podem estar atuando no sistema familiar e, de alguma forma, influenciando o quadro de bipolaridade.
Este artigo busca oferecer uma perspectiva sobre como a visão sistêmica pode lançar luz sobre as possíveis raízes familiares do transtorno bipolar, sempre com o alerta crucial de que a Constelação Familiar não substitui o tratamento médico e psicológico convencional, não oferece promessas de cura e deve ser vista como uma abordagem complementar. Nosso objetivo é fornecer conhecimento e valor, incentivando uma compreensão mais ampla e uma abordagem integrada para o bem-estar de quem vive com a bipolaridade.
A Bipolaridade sob a Ótica Sistêmica
Na perspectiva da Constelação Familiar Sistêmica, o Transtorno Afetivo Bipolar, assim como outras condições de saúde mental, pode ser visto como uma manifestação de desequilíbrios ou emaranhamentos no sistema familiar de origem. Bert Hellinger, o desenvolvedor da Constelação Familiar, sugeriu que o sofrimento de um indivíduo pode, por vezes, ser uma lealdade inconsciente a um membro da família que foi excluído, esquecido ou teve um destino difícil [1].
No contexto da bipolaridade, alguns consteladores e terapeutas sistêmicos propõem que os extremos de humor podem estar relacionados a dinâmicas familiares complexas, como:
• Identificação com Destinos Trágicos: O indivíduo pode, inconscientemente, se identificar com um antepassado que viveu extremos de vida, como grandes sucessos seguidos de grandes perdas, ou que teve um destino trágico, como mortes prematuras ou violências. A alternância entre mania e depressão seria uma forma de honrar ou representar esses destinos [2].
• Exclusões e Segredos: A exclusão de membros da família, segredos guardados ou eventos traumáticos não resolvidos em gerações anteriores podem gerar um desequilíbrio no sistema. O indivíduo com bipolaridade pode estar, inconscientemente, tentando trazer à luz ou compensar essa exclusão ou segredo, manifestando os extremos de humor como uma forma de expressar a tensão sistêmica [3].
• Dificuldade em Encontrar o Próprio Lugar: A dificuldade em encontrar o próprio lugar no sistema familiar, ou a inversão de papéis (por exemplo, um filho que assume o papel de pai dos pais), pode gerar uma sobrecarga emocional que se manifesta nos picos e vales do humor. A pessoa pode sentir-se dividida entre lealdades conflitantes, o que pode agravar a instabilidade emocional.
É fundamental compreender que essa é uma interpretação sistêmica e não uma causa direta ou única do transtorno bipolar. A visão sistêmica busca oferecer uma compreensão mais ampla das influências que podem estar atuando, mas não substitui a complexidade dos fatores genéticos, biológicos e ambientais envolvidos na bipolaridade.
Como a Constelação Familiar Pode Auxiliar no Caminho da Compreensão e Apoio
A Constelação Familiar Sistêmica, quando utilizada de forma complementar e consciente, pode oferecer um valioso suporte para indivíduos com Transtorno Afetivo Bipolar e suas famílias. Ela não se propõe a curar a bipolaridade, mas sim a trazer à luz as dinâmicas ocultas que podem estar contribuindo para o sofrimento e a instabilidade, permitindo uma nova perspectiva e a possibilidade de encontrar um lugar de maior equilíbrio no sistema.
Através da constelação, é possível:
• Identificar Lealdades Inconscientes: A constelação pode revelar se o indivíduo está, inconscientemente, carregando o peso de destinos ou traumas de antepassados. Ao reconhecer essas lealdades, é possível iniciar um processo de desvinculação, liberando o indivíduo para viver sua própria vida com mais leveza.
• Restaurar as Ordens do Amor: A constelação busca restabelecer as “Ordens do Amor” (pertencimento, hierarquia e equilíbrio entre dar e receber) no sistema familiar. Quando essas ordens são violadas, podem surgir desequilíbrios que se manifestam de diversas formas, inclusive em sintomas de saúde mental. Ao restaurar a ordem, a energia pode fluir de forma mais saudável.
• Promover a Compreensão Familiar: A constelação pode ajudar os membros da família a compreenderem melhor a dinâmica do transtorno bipolar no contexto sistêmico, promovendo empatia e reduzindo o julgamento. Isso pode fortalecer o apoio familiar e criar um ambiente mais acolhedor para o indivíduo com bipolaridade.
• Encontrar um Lugar de Força: Ao olhar para as dinâmicas familiares e reconhecer seu próprio lugar no sistema, o indivíduo pode acessar uma força interna que antes estava bloqueada, o que pode ser um recurso importante no manejo da condição.
É fundamental que a constelação seja vista como uma ferramenta de autoconhecimento e apoio, e não como uma solução única. Ela pode complementar o tratamento tradicional, oferecendo uma compreensão mais profunda das raízes sistêmicas do sofrimento e abrindo caminhos para a cura emocional e relacional.
Considerações Éticas e Limitações
A Constelação Familiar, embora poderosa em seu campo de atuação, possui suas limitações. É essencial que os profissionais que a utilizam sejam éticos e transparentes sobre:
• Não substituição: A constelação não é um tratamento para doenças mentais e não deve ser utilizada como substituto para a psicoterapia, psiquiatria ou medicação, quando indicadas. O tratamento do TAB geralmente envolve medicação estabilizadora de humor e psicoterapia, e a interrupção desses tratamentos sem orientação médica pode ter consequências graves [4].
• Profissional Qualificado: A busca por um profissional qualificado, com formação sólida tanto em Constelação Familiar quanto em áreas da saúde mental, é indispensável para garantir um trabalho responsável e seguro.
O Caminho da Integração
O caminho mais eficaz para lidar com o Transtorno Afetivo Bipolar é a integração de diferentes abordagens. A Constelação Familiar pode atuar como um complemento valioso, ajudando a identificar e liberar padrões sistêmicos que contribuem para o sofrimento e a instabilidade emocional. No entanto, ela deve caminhar lado a lado com o acompanhamento médico (psiquiatra) e a psicoterapia, que oferecem suporte, ferramentas e estratégias para o manejo dos sintomas, a prevenção de crises e a construção de uma saúde mental duradoura.
Sempre procure ajuda profissional qualificada. Se você ou alguém que você conhece está enfrentando o Transtorno Afetivo Bipolar, não hesite em buscar um médico psiquiatra e um psicólogo. A Constelação Familiar pode ser um recurso adicional em sua jornada de autoconhecimento e bem-estar, mas a base do tratamento deve ser sempre a ciência e a medicina.
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Referências
[1] Hellinger, B. (2001). Ordens do Amor: Um Guia para o Trabalho com Constelações Familiares. Cultrix.
[2] CABSiN. (2025). CABSIN e BIREME publicam mapa de evidências científicas sobre Constelações Familiares. Disponível em (https://cabsin.org.br/cabsin-e-bireme-publicam-mapa-de-evidencias-cientificas-sobre-constelacoes-familiares/)
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